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QUEM É GEORGE BUSH

Nossa história começa em 1942, quando George H. W. Bush (o papai Bush), um jovem recém saído do secundário, aproveita-se da influência de seu pai, o Senador Prescott Bush (vovô Bush), para passar por cima dos regulamentos da marinha estadunidense - que exigiam um mínimo de dois anos completos de faculdade para os candidatos a piloto - e torna-se o “mais jovem piloto da aviação naval”.

As conseqüências desse privilégio chegam dois anos depois.

Em 02/09/1944, quando o bombardeiro TBM Avenger que pilotava é atingido, o jovem entra em pânico e salta precipitadamente, deixando para trás os dois outros membros de sua tripulação, que jamais conseguiriam sair do aparelho e afundariam com ele para a morte e o esquecimento.

O nome desse avião era Barbara II, em homenagem à noiva do piloto. Que homenagem! instrumento da morte e túmulo de dois companheiros abandonados. Pobre Bárbara! melhor seria ter sido noiva de um juiz de futebol daqueles bem ladrões, que batizasse o próprio apito de Barbara II e depois anulasse três gols legítimos do time da casa...

Tempos depois, Bush contaria uma história diferente: seu avião estaria em chamas; ele teria sido obrigado a saltar, contra sua vontade... É uma história contraditória, com muitas versões. Mas a verdade veio à tona em 12/08/1988, quando a mais importante testemunha do acidente resolveu falar ao New York Post: “Ele (Bush) não está dizendo a verdade.” “Eu acho que ele poderia ter preservado aquelas vidas (...) se tivesse tentado um pouso forçado na água.” “(Aquele avião) jamais esteve em chamas.” (Artilheiro condecorado com a Cruz Voadora Chester Mierzejewksi, que voava a menos de 30 metros do cockpit de Bush, com visão direta deste.)

Apesar de tudo, papai Bush, de influentes amigos, voltou para casa presenteado com uma medalha Cruz Voadora; e Bárbara cedeu à sua corte. Dessa união nasceu o G. W. Bush (pobre Bárbara!) que hoje está em Washington ameaçando o mundo.

Mas antes de chegar lá, o irado rebento também teve sua anti-odisséia: alcoolismo, fracassos financeiros, fraudes e corrupção.

Em 1989, numa entrevista ao Time Magazine, Georginho colocou na boca do povo texano a seguinte pergunta sobre si próprio: “O que este garoto já fez na vida? Será que ele viveu apenas sob as asas do pai?” Isso em psicanálise chama-se projeção: colocar em um objeto externo um sentimento íntimo. Obviamente, era ao próprio Bush que a pergunta perturbava.

Mas, longe de não ter "feito nada", ele havia sim é prejudicado muita gente. De 1986 a 1989, como diretor e consultor da Harken Energy Corp, Bush lesara acionista minoritários praticando pelo menos três delitos: “insider loans” (tomara empréstimos da própria empresa), “insider trading” (negociara ações, valendo-se de informações privilegiadas) e fraudes contábeis (para esconder prejuízos; muito parecidas com as da Enron).

Após eleger-se governador do Texas, Bush armou um esquema mais interessante. Ele nomeou o bilionário Thomas Hicks como presidente do Fundo de Investimentos da Universidade do Texas e modificou a legislação para lhe dar maior liberdade de gestão. Hicks investiu US$ 1,7 bilhões do fundo em companhias privadas, um terço disso em fundos geridos por ele próprio ou por associados. Hicks, em contrapartida, contribuiu alto para as campanhas de Bush, e comprou o time de baseball Texas Rangers, pagando a Bush US$ 15 milhões por sua parte, que havia custado apenas U$ 600 mil: lucro de 2.400%. Detalhe: o Rangers recebeu cerca de US$ 200 milhões em dinheiro público, incluindo terras para seu estádio (desapropriadas) na cidade de Arlington.

Hoje, a história continua, com a Halliburton Co (leia-se vice-presidente Cheney) ganhando obras de reconstrução no Iraque...

Quem é George Bush?

Um menino emocionalmente inseguro? um alcoólatra? um tirano ameaçador?

Sim. Todas essas coisas. Mas acima de tudo ele é uma farsa. Uma farsa não só eleitoral, não só para o público; mas uma farsa para si próprio, em sua mais profunda essência...

Se apenas papai Bush tivesse pego Bushezinho no colo, olhado em seus olhos e dito:

- Filho, papai errou. Papai teve medo e saltou daquele avião. Nós, humanos, somos assim mesmo: imperfeitos... Aceita, filho, tuas limitações; como eu aceito as minhas...

Talvez Bushezinho fosse menos infeliz, e o mundo tivesse um tirano a menos.

André Carlos Salzano Masini

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