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Seção de Artes: Artigos "O que é ...?"

O que é "Digigrafia"?

Mauro Andriole

A presente explicação do significado de "Digigrafia" foi retirada de um e-mail do artista plástico Mauro Andriole dirigido ao diretor da Casa da Cultura André Masini, que lhe havia pedido que o ajudasse a entender o termo. O texto do e-mail, apesar de escrito sem maiores preocupações, é tão rico de informações e impressões, que foi necessário compartilhá-lo com todos nossos visitantes.

"Digigrafia" é o nome dado a uma técnica relativamente nova, que parte de um desenho (e.g. um desenho feito em nanquim sobre papel) que é digitalizado através de um scanner, manipulado em um programa para tratamento de imagens (por exemplo o Photoshop) e depois impresso através de uma impressora de grande qualidade.

Esse processo vem a atender "necessidades mercadológicas" a priori. Os meios tradicionais ficaram demasiadamente caros para os artistas, de modo que, litografias, gravuras em metal ou xilografias, tornaram-se raras, sobretudo em SP. O que é positivo na "digigrafia", é o fator "difusão em larga escala" - costuma-se reproduzir até 300 unidades, assinadas uma a uma pelo artista -, permitindo o acesso à obra para públicos que jamais teriam condições de possuir uma litografia ou metal. Por outro lado, a algo de impessoal nesse meio digital que incomoda ao artista, fato discutido pelos gravadores que conheço, principalmente os mais velhos. No entanto, não aderir a essa "necessidade mercadológica" significa, no mais das vezes, parar de produzir gravuras, pois o maior atelier de gravuras de SP, talvez o maior do país, deixou de fazer parcerias com os artistas. Até os anos 90, o atelier produzia litografias e metal, dividindo a edição com os artistas. Todos os grandes nomes da gravura brasileira passaram por lá , chama-se GLATT & YMAGOS. Mas essa prática ficou inviável de uns 5 anos para cá. A falta de conhecimento sobre o assunto por parte dos compradores fez com que o preço de uma gravura ficasse injustificável diante de uma reprodução mecânica. De maneira geral o "produto" parecia o mesmo para o leigo, que optava pelo preço mais baixo por razões óbvias.

A gravura sempre foi uma técnica nobre, exigindo grande perícia durante todo processo, desde a elaboração da imagem pelo artista, até a impressão feita pelos "artistas impressores", por sinal, não há como omitir esse personagem fantástico. São pessoas que manipulam as prensas, operários da imagem, e que desvendam diante do olhar do artista aquilo que estava latente em seu peito. Dessa forma mágica, a obra acontece a quatro, às vezes a seis mãos ! E o resultado são as gravuras que conhecemos. Assim foram realizadas as grandes obras de Aldemir Martins, Maria Bonomi, Guilherme de Faria, Renina Katz, Darel Valença, Burle Marx e tantos outros. A relação estreita entre o artista e o impressor já foi tema de Bienal, creio que em 1982 ou 85, quando realizaram uma mostra de um "impressor", apresentando obras de inúmeros artistas.

Voltando à digigrafia, não creio que se dará o mesmo, e nem podemos exigir tal coisa. A questão que se coloca é a da reprodução em larga escala. Esse tema foi muito debatido nos anos 30 pelos filósofos Adorno e W. Benjamim, sendo o primeiro um ferrenho opositor à idéia da reprodução da obra, e o segundo um defensor. No meu entender ambos estão corretos, discutiam sobre focos diferentes apenas.

Mas a despeito das dificuldades da produção da gravura, alguns artistas ainda mantém suas produções em suas oficinas. Claro que isso implica numa prática que beira o sacerdócio, devido ao grande esforço que a técnica exige, são etapas longas e onerosas principalmente para os mais idosos, e não há como saltá-las. Eu instalei a pouco tempo uma pequena prensa em meu atelier, dessa que se usava para encadernar, e venho criando imagens numa técnica chamada "linóleo". Trata-se de um carimbo, a grosso modo, que recebe a tinta que é transferida para o papel através da pressão. Foi uma saída que encontrei para driblar os percalços da "contemporâneidade".

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A Digigrafia Arte e Sobrevivência partiu de um desenho feito em nanquim sobre papel que foi digitalizado através de um scanner, depois manipulado no "Photoshop 5.0" e por fim impresso através de uma impressora de grande porte - jato de tinta -sobre papel. Não lembro agora o nome do papel, mas é algo semelhante ao Canson, numa gramatura alta, por volta de 280gr.

[Leia também Gravura: conceito, história e técnicas, escrito por este mesmo artista]

[Leia também o artigo: Ilusão e Arte - deste mesmo autor]


O Autor, Mauro Andriole, é artista plástico, estudioso de filosofia, sobretudo de temas que convergem para a ciência e a metafísica.

e-mail: andriole7@hotmail.com

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