Casa da Cultura    

Boletim Informativo Semanal

Ano III, número 51 - Quarta-feira, 29 de junho de 2.005   

Casa da Cultura Literatura Trabalhos de A. C. Masini


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Bom Dia, Amigo(a) Assinante, (ou Boa Noite)

Prosa Poética: Hoje inauguramos um espaço dedicado à Prosa Poética (ou Poesia em Prosa) em nossa seção de poesias.

O que é prosa poética?
"Prosa" é um palavra ambígua, pois pode designar uma forma (um texto escrito sem divisões rítmicas intencionais -- alheias à sintaxe, e sem grandes preocupações com ritmo, métrica, rimas, aliterações e outros elementos sonoros), e pode designar também um tipo de conteúdo (um texto cuja função lingüística predominante não é a poética, como por exemplo um livro técnico, um romance, um lei, etc...). Na acepção relativa à forma, "prosa" contrapõe-se a "verso"; na acepção relativa ao conteúdo, "prosa" contrapõe-se a "poesia".

Aristóteles já observava, em sua "Poética", que nem todo texto escrito em verso é "poesia", pois na época era comum se usar os versos até em textos de natureza científica ou filosófica, que nada tinham a ver com poesia.

Da mesma forma, nem tudo que é escrito em forma de prosa tem conteúdo de prosa.

O Lingüista Roman Jakobson defini "poesia" a partir das funções da linguagem: "poesia" é o texto em que a função poética predomina sobre as demais. Assim, um texto escrito em forma de prosa pode ser considerado de "poesia", se sua função principal, sua finalidade, for poética. A tal texto pode-se dar o nome de prosa poética ou poesia em prosa. Pois é "prosa" em sua forma; mas "poesia" em sua função, em sua essência, nos sentimentos que transmite.

Historicamente, o marco de início da prosa poética é geralmente associado aos simbolistas franceses, entre os quais Baudelaire e Mallarmé; em nosso país esse início também está associado aos simbolistas, principalmente ao Poeta Negro: o grande Cruz e Sousa, que tem 5 obras em prosa poética: Tropos e Fantasias (1893); Missal (1893); Evocações (1898); Outras Evocações (obra póstuma) e Dispersos (obra póstuma).

A partir do século XX o gênero foi adotado por muitos poetas e poetisas, de estilos e inclinações muito diversos. A essas obras está reservado esse novo espaço, que já de saída inclui algumas obras de poetas como Cláudio Willer e José Geraldo Neres que já faziam parte de nosso acervo. Hoje apresentamos um novo poeta adepto desse gênero: Jorge Amaral.

André Masini

A prosa poética de Jorge Amaral: Os textos desse professor de Inglês, formado em Letras pela PUC-Campinas, têm forma de prosa, mas essência poética. Podem ser lidos tanto como pequenos contos ou crônicas, quanto como poesia. Neste Boletim publicamos "Uma página em branco e do avesso", outras obras do autor podem ser lidas em nosso site:
[http://www.casadacultura.org/Literatura/Poesia/prosa_poetica/gr01/Prosa_Poetica_E_Preciso_Sim_Tereza.html]
[http://www.casadacultura.org/Literatura/Contos/gr1/Rosa-choque_era_o_vestido.html]
[http://www.casadacultura.org/Literatura/Poesia/prosa_poetica/gr01/Prosa_Poetica_Pagina_em_Branco.html]

Um abraço fraternal,
Casa da Cultura

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Uma página em branco e do avesso

Jorge Amaral

Uma página em branco, do avesso, de baixo para cima, de trás para frente, indiferente. Começo do início e fim terminal. O esboço em carvão de um corpo de mulher, deitada em meio a lençóis alvos, escondida na brancura do papel, fugindo em linhas negras, esfumaçadas e perigosas, esboçada. Vestígios de um sonho dobrado que a corta ao meio sem piedade. Rindo à toa, o sonho afiado se perde nos descaminhos da imagem refletida pela indubitável transparência. O sonho é uma navalha a decapitar o real. Uma vez de um lado não se pode escolher o outro, quando no outro, o outro, será apenas (des)memória. A cor amarela é a cor do passado, registra o que já não é. A mulher, outra em outra, e o papel, suporte desleal, ainda estão ali, tão unidos e tão (des)iguais. O papel contém duas verdades em duas mentiras, ou vice-versa. O destino é sempre um jogo de sorte, talvez, de azar. A brancura do papel novo encerra em si o desespero futuro: a amarelidão do papel velho, guardado, esquecido. O novo é que está no velho e a recíproca é verdadeira. O desenhista já nem desenha, sequer existe. Só, a mulher não envelheceu.Dorian Gray a reclamar a juventude em espasmos de vida imitando a arte. A mulher é a obra de arte; o papel, o suporte; o artista, o criador. Óbvio, assim parece; erudição, se refletido. Pense no espasmo, no criador. Mistério a penetrar todas as vidas, todas. Dos três, apenas o artista não morreu, perpetuado em sua mulher no papel amarelado, abandonada no fundo de um jacarandá a desdenhar, inconscientemente, do interesse alheio. Eu, jamais envelhecerei! Será que ela pensa? Um depósito empoeirado e um tesouro assinado por mãos artífices, criadoras da mais bela das obras. À noite, quem sabe, ela ou dance ou se debruce na janela a espiar o mundo lá fora. Romance! O papel e sua ‘double face’: vida e morte. A mulher no verso, ou no anverso?, gerada em fluxos de pensamentos delicados, espontâneos, sábios, filosóficos e criativos, guiando mãos ultra-sensíveis. Uma valsa vienense e um sonho partido ao meio como o centro dos corpos pelos dois gumes da vida.O fio da navalha e a dor do dedo cortado na borda do papel. De um lado, a marca, do outro, nada. Transparência afetiva que a todos revela: lembrança. À meia-noite, desfaz-se o encanto e à fantasia a realidade.

Escrito entre 11.06.05 e 16.06.05


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