Mauro Fernando, do Diário do Grande ABC

Tornar-se escritor é algo muito mais difícil do que as pessoas imaginam.

Uma celebridade qualquer pode decidir escrever um livro e, do dia para a noite, alcançar milhões de leitores – Minhas noites com Bill Clinton, ou Como organizei os atentados de 11 de setembro, ou Os motivos secretos de nossa derrota para a França na final da Copa, ou algo do gênero – mas tal feito não faz da pessoa um escritor ou escritora; ele ou ela não passa de uma celebridade que escreveu um livro.

Escritor é a pessoa cujo texto desperta interesse por suas (do texto) características intrínsecas, não pelas características do autor.

Como, então, tornar-se escritor se ninguém se interessa por ler o texto de um desconhecido?

É difícil, muito difícil. Por vinte anos eu bati em portas de editoras. Tudo que eu queria era que alguém lesse meu trabalho e me dissesse que ele era ruim, ou que me dissesse que era bom e o publicasse. Mas eu nunca alcancei isso.

Quando entendi que jamais conseguiria nada das editoras, passei eu mesmo a editar meus livros. Obtive algum reconhecimento de professores de literatura, mas isso não teve maiores conseqüências. Levei algum tempo para abandonar a ilusão de que a apreciação da qualidade de meus livros pudesse causar algum tipo de reação em cadeia, um efeito bola de neve que os fizesse alcançar grande número de leitores. Mas, por fim, entendi que – para alcançar o público – eu precisaria mostrar meu trabalho através da imprensa.

Então uma nova maratona começou. Assim como o público, a imprensa também não se interessa pelo trabalho de desconhecidos. Bati à porta de muitos jornais. Tentei argumentar que "Humanos" era um trabalho sério, que levara 16 anos para ser elaborado, e que para poder concluí-lo eu deixara 3 anos de bom salário na Receita Federal! Mas ninguém parecia escutar ou mostrar interesse pelo que eu dizia...

Até que o destino fez com que dois exemplares de meus livros caíssem na mão de Mauro Fernando, do Diário do Grande ABC.

Mauro não apenas se deu ao trabalho de ler o material de divulgação que eu enviara (o que já é muitíssimo se comparado com o que normalmente acontece), mas também examinou "Pequena Coletânea de Poesias de Língua Inglesa" e LEU(!!) "Humanos".

Mauro também fez o que nenhum outro jornalista tinha feito, abandonou a trilha batida do lugar comum e do óbvio, e, ao invés de falar de autores já consagrados, ao invés de repetir os passos que todos repetem, decidiu fazer uma matéria sobre este desconhecido e seus livros.

Tivemos uma longa conversa por telefone no dia 13/06/2002, e em 16/06/2002 eu tive a enorme surpresa de ver uma matéria de quase página inteira publicada nesse grande jornal que é o Diário do Grande ABC, provavelmente o terceiro do país em número de leitores. A matéria incluía fotos da capa e quarta capa de "Humanos", e trechos de ambos livros! Os trechos foram muitíssimo bem escolhidos, eram distintos das citações contidas no material de divulgação à imprensa, e haviam sido selecionados direto dos livros pelo próprio jornalista! [Veja a Matéria]

Colocando-me na posição de um leitor de caderno de cultura, eu me pergunto: De que adianta ler matérias que apenas repetem o que outros já disseram e apenas "apresentam" o que já é velho e bem conhecido? Não é melhor ler textos de um jornalista como Mauro Fernando, que pelo menos tenta produzir algo de novo e se esforça para encontrar obras de qualidade verdadeiramente desconhecidas?

A partir dessa matéria, as coisas foram se tornando um pouco mais fáceis para mim, e as portas começaram a se abrir um pouco.

Como se pode agradecer um gesto desses? Mauro teve olhos, teve confiança em seu próprio julgamento e coragem para trilhar caminhos desconhecidos, e teve generosidade...

A única coisa a dizer é:

Obrigado, Mauro Fernando!

Parabéns, Diário do Grande ABC!